22 de fev. de 2008

Sobre nuvens, nós mesmos e a existência...

Quando criança constantemente costumava olhar para o céu e procurar nuvens.Gostava de tentar descobrir no que elas iriam se transformar, se num grande urso polar um um elefente de rabo torto.O tempo, (que diga-se de passagem, esse grande estraga prazeres dos rápidos instantes únicos da infância) passava e eu nem percebia.Me divertia com aquilo, era mágico ver as nuvens se transformarem no que eu pensava. Não faço mais isso, mas confesso intrigado que por algumas vezes me pego olhando o céu...Uma noite dessas fui presenteado com uma lua que num espetáculo divino invadia a privacidade do meu quarto pela janela e logo viajei com ela pelos mistérios que todos já desejaram conhecer, e enquanto as nuvens negras completavam o espetáculo dos céus eu adormecia com saudades de minha infância.Nuvens, carregadas de água ou vazias de si mesmas, fragmentadas ou artísticamente desenhadas no céu, nenhum desses aspectos fazem diferença elas estam sempre lá...fazem parte desse mesmo e silencioso espaço vazio do qual Pascal descreve admirado " O silêncio desses espaços vazios me assombra". Não procuro mais figuras de animais ou coisas no céu. Hoje eu me vejo e me percebo nelas.Percebo o ser humano e toda sua semelhança metamorfórica com elas, pois somos como nuvnes no céu, existindo contigentemente de vento em vento, mudando o curso das coisas, refazendo o percurso de nossos próprios planos e se metamorfoseando na imensidão do que não se explica.Por vezes atravessados por pássaros que passam e rasgam pedaços dentro de nós, levando um pouco de nós mesmos, outras vezes nos juntando a nuvens antes solitárias e agora não mais sozinhos formamos um grande lençol do tamanho dos olhos desencontrados de uma criança.
A Existência é um milagre mas viver e sentir a existência é um milagre ainda bem maior e é percebendo a temporalidade das nuvens agora aqui depois ali, existindo..não mais existindo, que o ser humano nessa dialética existencial de ve ser garto a Deus pelo poder dos instantes, pela oportunidade dos momentos, a mágica dos acontecimentos, pela importância das pessoas, pela possibilidade do amor..enfim pela dádiva de continuar existindo mesmo com toda fragilidade de uma nuvem.